segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Ich bin ein bola de Berlim



Dizem os mais puristas da gramática alemã que o carismático presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy terá dito "Sou uma bola de Berlim!" em vez de "Sou um berlinense!" no seu famoso discurso em 1963, cerca de três meses antes de ser assassinado em Dallas no Texas. Quase 50 anos depois Marcelo Rebelo de Sousa, o político-comentador televisivo, revitaliza o célebre discurso num vídeo em estilo caseiro que supostamente deveria sensibilizar os alemães para o esforço brutal a que estão sujeitos os portugueses devido às medidas de austeridade e ao desdém da Alemanha para com uma nação esforçada com quase 40 anos de democracia.  


A famosa bola de Berlim em Portugal, sonho no Brasil e pączki na Polónia


Não aprecio discutir política, quem me conhece sabe-o bem, mas os pedidos de familiares e amigos no Facebook para partilhar o "vídeo proibido" de Marcelo Rebelo de Sousa requerem um momento de reflexão e uma explicação para o motivo pelo qual não me dão ganas de partilhar o dito "Ich bin ein Berliner" Made in Portugal.

Vi no Youtube a produção da NextPower que supostamente deveria ser mostrada na Alemanha, na Praça Sony em Berlim. Diz alguma da imprensa portuguesa que foi proibido ou seja, alvo de censura. Segundo os alemães o motivo para esta decisão prende-se com o carácter politizado da mensagem que, no seu entender, não é apenas uma demonstração do que é Portugal nem tampouco o de provar que não somos preguiçosos. O senhor embaixador da Alemanha em Portugal através da chefe da secção de imprensa e cultura da Embaixada da Alemanha, Annette Ludwig, reitera que a transmissão "não pode ter sido 'impedida' pela Embaixada", lembrando que "todos os órgãos oficiais alemães defendem a liberdade de opinião e de informação".


Então como entender este aparente atentado contra a liberdade de informação? Visualizei o vídeo de 4:45 minutos para formar uma opinião. Opinião esse que (devo assinalar) pela distância a que me encontro e pelo facto de não ir a Portugal há uns anos, é porventura diferente daqueles que estão a sofrer directa e indirectamente com os planos da Troika para Portugal.

Filmado em Lisboa, junto ao Padrão dos Descobrimentos, símbolo da nossa gloriosa História e do período áureo dos descobrimentos que por um lado nos tornou um império e alargou as nossas fronteiras para um tamanho incomparável àquele de Portugal continental por outro também foi destruidor de mundos, culturas milenares e sábias existentes nos territórios que viríamos a chamar de colónias - tudo em nome de Deus e da Coroa portanto absurdamente justificável e lógico no contexto histórico da época. 



O vídeo começa em 1974 com a revolução dos cravos que pôs fim a uma ditadura bafienta e sufocante que, por muito que sejam contra, usou a tortura e a opressão contra a oposição sendo o assassinato de Humberto Delgado e as perseguições aos membros das células do Partido Comunista Português, prova cabal disso.

Melhoramos as condições de vida dos portugueses, a alfabetização, a taxa de mortalidade infantil e a esperança de vida tudo sem recurso ao Plano Marshall. Aqui começa a primeira não-verdade do vídeo. Recebemos sim: entre 1950 e 1951 recebemos 70 milhões de dólares tanto como a Áustria e uma simples pesquisa na Internet não só prova isso como ainda nos brinda com interessantes cartazes de propaganda americana sobre a generosidade dos norte-americanos para com uma Europa destruída e desmoralizada.



Depois passamos ao mea culpa pelo modo como gastamos ou esbanjamos dinheiro onde vemos uma senhora na casa dos seus sessenta a mostrar um cartão de crédito enquanto ao lado esquerdo vemos um BMW série 5. Afinal 41,3% do parque automóvel português são viaturas Made in Germany. Pois... que culpa temos nós da qualidade dos VW, Audi, BMW, Porsche e Mercedes? E porque têm eles de agradecer o facto de muitos de nós lhes andarmos a comprar carros usados com mais de 200.000 km que depois aparecem à venda com 68.999?

As parcerias com Portugal... os alemães são uns mal-agradecidos... A Siemens passou-nos a perna depois de instalarmos uma rede de fornecimento de energia para veículos elétricos sem os ditos estarem construidos (com certeza que alguém beneficiou com a negociata) e ainda lhes andamos a comprar submarinos Trident ao custo de biliões de € mais as negociatas com a construção de estádios para o Euro 2004. E com isto tivemos de cortar com a despesa pública, no elo fraco, a classe-média - essa vaca leiteira que é ordenhada até cair prostrada. Do bebé ao idoso todos saíram prejudicados mas talvez pensem mal de nós e nos vejam como uma espécie de Brasil europeu onde a tristeza é esquecida com o Carnaval e com festas populares ou será que deveriam ter referido com futebol, telenovelas e a Casa dos Segredos? Melhor não -  a Casa dos Segredos passa na TVI e nesse canal televisivo o autor, o político-comentador Rebelo de Sousa, retira o seu cheque regularmente.

Portanto trabalhamos mais horas, vamos para pensionistas aos 67 e não temos tantos dias de férias e feriados como os alemães mas eles deveriam saber que somos trabalhadores árduos mas mal pagos. Deveriam saber que além disso pagamos muito mais impostos e quando protestamos nas ruas até abraçamos a polícia de intervenção. Chegamos à conclusão que os alemães controlam as regras do jogo na UE, que têm poder e são uma potência mundial., que podemos fazer senão baixar as orelhas e pedir aos alemães que "metam cunha", que se lembrem de nós, povo, e esqueçam a corja de bandidos que vilipendiaram Portugal e foram engordando desde a década de 70 até hoje?

Porque não um vídeo mais esclarecedor - aos alemães à Europa e ao mundo - da classe política eleita pelo povo (que confiou e depositou a sua esperança neles) sobre as negociatas, os absurdos da corrupção do Estado português e de muitos dos seus políticos, do despesismo estapafúrdico com tantos projectos megalómanos como o TGV, o novo aeroporto e novas auto-estradas. Perdemos noção dos escândalos envolvendo dinheiros públicos, dos casos de compadrio entre privados e o Estado. Do "fax de Macau" passando pelo BPN ao escândalo Freeport são centenas! E a culpa é de quem?

É por demais evidente que o problema é sobretudo político e a intenção do vídeo é porventura necessária no contexto de desmoralização e pessimismo em que se vive correntemente. Temos de levantar a cabeça! A Alemanha ganhou poder pela incompetência política de muitos dos seus parceiros da UE e não somos excepção. Antes de tudo há que desmontar Portugal começando pelo desmantelamento das máquinas partidárias e da bipolarização do governo em PS e PSD-CDS. Descentralizar para aliviar o Estado dos "tachos" das juntas de freguesia e da mentalidade do "emprego como funcionário público que é seguro e serve para toda a família". Investigar e prender os políticos que enriqueceram do dia para a noite, os altos funcionários públicos e gestores que usam e abusam do erário público, dos privilégios, investigar os deputados da Assembleia da República que vendem pareceres das leis que eles próprios criam, as ligações entre a banca e o Estado.


Se temos tudo aquilo que têm os alemães mais um país com uma gastronomia e paisagens fantásticas porque motivo eles chegaram onde chegaram e nós não? Quem está mal? Quem é realmente o verdadeiro culpado?



Memorandum passa a "Um outro blogue"

Porque não me sentia confortável com o título do blogue "Memoradum" - a lembrar politiquice em vez de recordações ou factos assinaláveis e dignos de memória - mudei-o para "Um outro blogue". 

Fica assim, a meu ver, mais em consonância com o Um português na Polónia e é de facto o meu outro blogue; afastado da Polónia e da minha experiência de vida com os polacos. O endereço não se altera ricardotaipa.blogspot.com/ - só mesmo o título. 

O meu agradecimento a todos os meus os leitores e um bem hajam!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cápsulas e coisas perdidas no tempo



Miss Belvedere


Em 1957 um Plymouth Belvedere 0 km a cheirar a novo foi fechado num sarcófago de betão para supostamente sair do mesmo modo no distante ano de 2007.



Há 50 anos atrás o belíssimo Belvedere branco e dourado foi enterrado numa campa de betão armado e embrulhado em papel especial no motor e na carroçaria. O objectivo seria transformá-lo numa cápsula do tempo para que as gerações vindouras soubessem como era a sociedade de Tulsa em 1957.
Junto com o veículo foram enterradas, uma grade de cerveja de uma fábrica local, mapas de Tulsa, um bidão de gasolina (diziam que em 2007 a mesma seria inexistente) fotografias várias, cartas de cidadãos e dos dirigentes locais e um microfilme que contém a resposta para o futuro proprietário do (velho) novo Plymouth Belvedere. O concurso dava como vencedor aquele que estiver mais próximo do número actual de habitantes de Tulsa, se não estiverem vivos em 2007, serão os herdeiros a levar para casa o Plymouth.










Assente em quatro preguiças e embrulhado para resistir a 50 anos debaixo da terra o outrora reluzente Plymouth estava completamente corroído e impossível de restaurar. O desapontamento dos organizadores era visível mas pelo menos o contentor com o microfilme e as mensagens estava impecável. 


O vencedor foi um homem que em 1957 passava por Tulsa e por acaso concorreu, deixando o seu palpite. O legitimo proprietário do carro morreu com cancro em 1979 e não teve filhos, a sua esposa morreu em 1988. O herdeiro trata-se de um sobrinho deste senhor que, de acordo com o tablóide Tulsa News, irá levar o Plymouth numa Road Trip (de reboque) até Nova Jérsia de modo a que seja desenferrujado por a firma Ultre One que vende um "milagroso" removedor de ferrugem:



O novo dono do Plymouth afirma que não será um restauro mas sim uma limpeza...


 O pombo-correio inglês 

David Martin um pensionista britânico decidiu que havia chegado a hora de fazer obras na lareira e chaminé da sua casa em Surrey. Ao começarem os trabalhos uma quantidade assinalável de sujidade e dejetos trouxeram consigo o esqueleto de um pombo-correio prontamente identificado pelo pequeno canudo numa das patas. Para surpresa do locatário o canudinho vermelho continha uma mensagem codificada ao estilo Código de Da Vinci e a informação que a ave havia nascido no ano de 1940, em plena II Grande Guerra.

Fonte: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2226203/Skeleton-hero-World-War-II-carrier-pigeon-chimney-secret-coded-message-attached-leg.html?ito=feeds-newsxml

De acordo com os historiadores os pombo-correio foram de grande utilidade durante o conflito e terão sido lançados mais de 250.000 com mensagens secretas. A velocidade de 1 milha por minuto destas aves e o seu sentido de orientação permitiam que atravessassem as linhas do inimigo com informações cruciais para os militares e serviços secretos. Este herói alado terá sido lançado no Dia D e por motivos desconhecidos (cansaço, inalação de fumos tóxicos) pereceu na chaminé sendo encontrado 67 anos depois nesta nossa sociedade tecnologicamente avançada que quase instantaneamente divulgou na Internet a sua heroica tarefa e missão.

Dentro do canudo encontrava-se uma mensagem codificada - que está a fazer as delicias dos aficionados - de 27 códigos com uma combinação cinco números e letras enviada por "Sergeant W. Stott" para o destinatário XO2 que se supõe ser o Quartel General  de Bletchley Park em Buckinghamshire.

Por enquanto especula-se o teor da mensagem mas tudo aponta para que estivesse relacionado com o desembarque na Normandia. Esperemos que a tal sociedade tecnologicamente avançada deslinde o mistério de tempos em que ainda se escreviam cartas com tinta e papel e onde os telefones eram considerados um bem de luxo. 


O Pontiac Bonneville Safari perdido nas areias da Califórnia


Fonte: http://hooniverse.com/2012/06/11/hooniverse-modern-art-monday-a-1964-pontiac-bonneville-wagon-as-still-art/


Nos anos 60 o automóvel Made in USA tinha de ser cromado, enorme, largo, comprido e de preferência com um motor V8 acoplado a uma pachorrenta caixa automática. O Pontiac Bonneville tinha tudo isto mais uma área de carga que tornava as station wagon americanas autênticas cavernas motorizadas.

O carro em questão apareceu um dia destes numa praia californiana mais propriamente em Morro Bay Califórnia na praia de Sand Spit. Supõe-se que terá sido abandonado (perdido, roubado ou esquecido) no ano de 1973 - de acordo com Mike Baird o autor das fotos e descobridor do achado. 

Fonte: http://www.oldcarbrochures.com

Pouco ou quase nada se sabe sobre o automóvel. Especula-se que algures nos anos setenta o seu proprietário deixou-o na praia e nunca mais o viu. Sand Pit, pelo que apurei, é uma praia com características particulares onde as tempestades de areia e marés-vivas são frequentes. Eventualmente o patilhas boca-de-sino e camisola de gola alta que o conduzia ou estava cansado das avarias ou fumou uns canhões com uns amigos numa noite qualquer para no dia seguinte encontrar apenas o mar, areia e gaivotas.

Quase quarenta anos depois sobrevivem na carcaça corroída os para-choques cromados e algumas partes do interior em vinil, esse tecido tão típico dos anos 70.  O autor confirma que o Pontiac desapareceu dias depois engolido novamente pelas areias californianas. Será que só o iremos ver de novo em 2050? 




Meretricum antiquitatis*

Eventualmente um dos antepassados de Rocco Siffredi em jogos sexuais em Pompeia

A história de Pompeia é conhecida por muitos. Corria o ano de 79 d.c. quando o vulcão Vesúvio entrou em erupção enterrando em lava, cinzas e pedras a então populosa cidade de Pompeia. Só no século XVIII se procederam a escavações arqueológicas que revelaram em grande detalhe a vida dos seus habitantes e os seus últimos momentos – conservados em cinzas e muitos apanhados pela nuvem piroclastica semelhante, em parte, a uma explosão nuclear. Afastado do centro da urbe uma descoberta insólita, um lupanario vulgo bordel ou mais comumente uma casa de putas. 

O edifício perfeitamente conservado revela frescos eróticos e é constituido por dois pisos. De acordo com os historiadores o rés-do-chao seria para os clientes menos abastados e o piso superior para os que tinham mais Sestércios – não se sabe contudo se a qualidade das meretrizes era correspondente ao piso ou não mas supõe-se que sim. Aparte dos frescos os graffiti (inscrições nas paredes) são reveladores do tipo de frequentador de tais instalações; Hic ego puellas multas futui (Aqui **** muitas moças) ou Felix bene futuis (Sortudo, **** bem) entre outros. Eventualmente teriam sido escritos enquanto esperavam pela sua vez. 

O bordel com quase 2000 anos no cruzamento da Via dell’Abbondanza

Numa investigação feita por arqueólogos não se encontraram vestígios de portas ou mobiliário supondo-se que se houvesse algo para esconder as poucas vergonhas só mesmo cortinas que teriam sido destruídas pela erupção e pelo tempo e um colchão serviria de leito para as fornicações.

Não foram encontrados restos humanos no lupanário de Pompeia.

* Velha prostituta

Fonte: Wikipédia