domingo, 30 de setembro de 2012

O Grunho Corporativo - por João Ferro*

Capa do álbum Animals dos Pink Floyd


Olá amigos, antes de mais convém explicar que palavra e esta ‘’Grunho’’.

Na Infopedia on-line esta definida da seguinte forma:

- grunho

▪ grunho: 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo de grunhir

grunho

nome masculino

1. porco

 2. calão, pejorativo indivíduo bronco

(De grunhir)


Na fala corrente e vulgar da região de Lisboa um Grunho pode ser definido como alguém que tem uma atitude pouco nobre, alguém desprovido de inteligência, de poucas maneiras, alguém com atitude bestial, criatura sub ou semi-humana, alguém pouco digno de ser quem é. E são principalmente estas ultimas palavras aquelas que são mais interessantes neste meu diagnóstico de A terra dos Grunhos, ou seja atitude ou condição sub ou semi-humana, alguém que não atingiu o seu pleno estado potencial. Condição essa que podemos observar na grande e esmagadora maioria dos seres humanos independentemente da raça, género ou condição financeira ou social!

Neste capítulo de - Os Grunhos Corporativos ­– daremos especial atenção a este sub-género de seres humanos aqui apelidados de Corporativos. Uma vez mais convém também definir o que é um ‘’Corporativo’’.

No mesmo dicionário acima descrito define-se assim:

corporativo

adjetivo

organizado ou baseado em corporações

(Do latim corporatīvu-, «fortificante», pelo francês corporatif, «corporativo»)



Um Corporativo é pois alguém que pertence a uma organização de pessoas com um interesse e objetivo comum, uma corporação. Entidade muitas vezes vaga nos seus métodos mas cujo objetivo é fazer lucro.

Mas basta de definições gerais e vamos ao que interessa!


O Grunho Corporativo

O Grunho corporativo julga-se parte de uma elite de gente que nasceu para reinar sobre os outros e fazer dinheiro com isso, tem como características comuns os seguintes atributos:

Ambicioso;

Despótico;

Manipulador;

Obstinado;

Dominante;

Seguro de si;

Forte;

Invasivo;

Não olha a meios para alcançar fins;

Superficial;

Iludido;

Tem sempre razão;

Raramente tem duvidas e nunca se engana;

Materialista;

Limitado e limitante;

Quadrado;

Cuida da aparência  dentro dos padrões estabelecidos;

Quer-se um vencedor;

Competitivo;

Só colabora hierarquicamente sendo dominante ou dominado;

Socialmente autista;

Profundamente desenraizado da sua natureza humana e espiritual;

Asséptico;

Anti-natural;

Robótico;

Escravo e escravizante!

 O Grunho Corporativo é um ultra especialista no que faz e pouco mais o interessa verdadeiramente a não ser que de alguma forma contribua para o seu mundo ideal, não tendo ideia de como é profundamente escravo da sua atitude e dos poderes ocultos que o dominam que estão baseados no poder, no estatuto, na sensação da falta material, na necessidade de adquirir, de ter mais, mais, mais... dai a necessidade de lucro sempre crescente.

Não tem perceção da falta de criatividade  para a vida que o define e de como é tão pobre e superficial que não consegue ter uma ideia melhor para a vida que não seja trabalhar para outrem uma vida inteira, ou criar a sua própria corporação sustentando-se na ilusão do que necessita materialmente e egoisticamente. É assim dominado pela necessidade de ter dinheiro não tanto para adquirir bens materiais mas pelo status e pela sensação de poder que ele traz. O Grunho Corporativo é assim dominado uma vida inteira pela ideia de como é forte, poderoso e melhor do que a maioria, revelando dois aspetos básicos da sua personalidade: a competitividade, como instrumento de superação, de distinção em relação aos outros e a necessidade de poder, de estatuto. A necessidade de dominar como prova da sua superioridade. Revelando assim a sua alma distorcida onde o ego determina a ação da sua vivência.

Os Grunhos corporativos distinguem-se em diferentes classes:

- O Capitalista: é a elite deste tipo de grunhos, o poderoso detentor de extraordinárias somas de capital, é ele que dita as regras do mercado, o oligarca absolutista que gere nas sombras os seus interesses manipulando a sociedade a seu bel prazer através das suas redes mafiosas de poder. São literalmente os donos do mundo dominando a banca, as corporações, a política, a propriedade física imóvel e as fontes de extrato e produção mundiais.

Este tipo de Grunho move-se essencialmente pelo poder que tem, o dinheiro em si já nem e importante, é o jogo de poder, domínio e manipulação que o satisfaz.

- A Elite visível: este e o tipo de Grunho visível para a maioria da população, são erradamente chamados de elite porque estão visíveis. São os políticos e os gestores das grandes corporações. São os que aparecem na TV, os braços direitos da verdadeira elite reinante. A estes também o jogo de poder os satisfaz mas tem um prazo de validade mais curto, pois ao estarem expostos à critica e aos olhos da maioria pelo que fazem acabam por não ter uma existência muito longa no seu poleiro. Mas, servem através da sua rotatividade pelo tempo possível os interesses maiores e acabam por ter uma vida recatada depois da excitação das luzes da ribalta. No fundo são os atores numa peca encenada por outrem.

- O quadro superior: a este grupo pertencem todos aqueles que são chamados diretores quer sejam superiores, médios ou juniores, os chefes, quer seja na banca, nas empresas, no estado ou no aparelho político. São quem faz realizar as ordens vindas de cima, os que tem contacto com os sectores de produção, mero instrumento das verdadeiras elites, são os ambiciosos que vieram do povo mas querem algum poder, os capatazes. São aqueles que trabalham nas empresas correndo o tempo inteiro para atingir os objetivos para poderem receber um salário maior do que a maioria e para ter os bónus extra como um carro novo de tempos a tempos e as felicitações do concelho de administração. Não têm verdadeiramente ideia de como são escravizados e de quão pouco recebem comparativamente com os ganhos das elites, são as máquinas ao serviço do poder sem imaginação para ter uma vida em liberdade. Vivem no medo de perder o seu "estatutozinho" que lhes traz regalias materiais que os apaziguam, são os bem comportados, são aqueles que a sociedade de hoje define como o exemplo de cidadão, de aparência limpa e conservadora, são os que quiseram enquadrar-se, enjaular-se num escritório, numa vida de rotinas, sóbria de esforço e dedicação a algo maior que ninguém sabe bem o que é, o sacrifício em prol do lucro crescente. São no fundo o óleo da máquina de produzir dinheiro.

 Os Grunhos Corporativos são assim tristes almas mirradas que não conseguem desenvolver as asas do Amor pleno, da liberdade e da consciência total, quedam-se pelas coisas pequeninas e mundanas que tanto os atormentam internamente, o poder, o estatuto e o material. São manipuladores e manipulados... tristes, doentes, desprovidos de Humanidade no sentido profundo que esta palavra tem.

Infelizmente o mundo em que vivemos hoje é um mundo de corporativos, máfia institucionalizada mundialmente e que partilha o poder entre corporações propriamente ditas, o Estado como mera extensão dos interesses corporativos, o poder judicial como ramo abonatório dos poderes anteriores, o sistema bancário como o cerne de todo o sistema e o ramo propagandista a que se chama de órgãos de informação ou média. Todos eles colaboram intrinsecamente para proteger e manter os seus interesses internos em detrimento da ética, da justiça, da paz, da sabedoria e do bem estar geral da população.

O mundo funciona hoje como uma mera corporação gerida pelos Grunhos Corporativos!

P.S. Como em todas as definições este resumo peca por limitado pois o grau de complexidade do nosso mundo e muito maior. Uma especial ressalva merecem também todas as pessoas e são muitas que trabalhando em corporações ou sendo proprietários de empresas são almas maiores, gente boa que merecem ser o exemplo!

As corporações, o capitalismo ou o dinheiro não são entidades intrinsecamente mas, o que as faz negativas e o nível de pessoas perturbadas, castradas ou passivas que permitem que cada uma seja infetada por uma mentalidade corrosiva.


Cabe a cada um de nos elevar o nível de consciência e de ação e alterar a sociedade!

* João Ferro é mais um dos emigrantes portugueses na Polónia. O texto é totalmente da sua autoria. 

domingo, 2 de setembro de 2012

Julia Butterfly Hill - 738 dias no alto de uma sequoia

Diz que tinha 6 anos e fazia uma caminhada com os seus pais quando uma borboleta pousou num dos dedos da sua mão ficando com ela por algum tempo, o suficiente para que, a partir de então, a passassem a chamar butterfly (borboleta). Os Hill são daquelas famílias que por vezes vemos no cinema. Viviam numa grande auto-caravana e o seu pai pregava o evangelho de cidade em cidade. Foi neste ambiente que cresceu Julia uma activista americana que ficou conhecida pela sua determinação em salvar uma sequoia com 1000 anos das serras dos madeireiros da Califórnia.

Capa do livro O Legado de Luna (The Legacy of Luna)

Esta história ainda não passou para o grande ecrã apesar de algumas tentativas e intenções de algumas figuras em Hollywood. Dizem que em tempos de crise a história de uma heroína e activista pro-ambiental não vende. Foi adiado e esperam que algum mecenas possa disponibilizar os fundos necessários para o filme sobre Julia e a sequoia gigante que foi baptizada de Luna. 

Tudo começou na realidade com um grave acidente de viação em Agosto de 1996 tinha Julia 22 anos. Sendo a única pessoa sóbria num grupo de amigos Julia conduzia tranquilamente quando um condutor alcoolizado embateu violentamente na traseira do veiculo. O volante partiu com o impacto da sua cabeça e perfurou-lhe o crânio. Foi só após um ano de recuperação e terapia que voltou a poder falar, caminhar e expressar-se naturalmente. 

Este acontecimento foi o catalisador para a maior mudança da sua vida. Diz em entrevista que: 

"Enquanto recuperava, percebi que toda a minha vida tinha estado fora de equilíbrio. Finalizei o ensino secundário aos 16 anos estando a trabalhando sem parar desde então, primeiro como empregada de mesa, depois como gerente de restaurante. Estava obcecada pela minha carreira, sucesso e coisas materiais. O acidente despertou-me para a importância do momento fazendo o que podia para ter um impacto positivo no futuro. (...) O volante na minha cabeça foi, figurativa e literalmente, o que me conduziu numa nova direcção da minha vida".

Foi então que Julia encetou uma road trip para a Califórnia interessando-se por um grupo pro-ambientalista ligado à musica reggae. Protestavam contra o crime ambiental dos madeireiros californianos e do gigante das madeiras a Pacific Lumber Co. propriedade de um magnata texano. Os protestos entre estes e os ambientalista haviam subido de tom e culminado com armas de fogo e uma tragédia onde a vida de um jovem de 20 anos foi interrompida. A descoberta de Luna foi por acaso e deu-se quando alguém notou a marca a tinta azul que significava "árvore para abate". O grupo montou prontamente uma pequena plataforma de 1.80x1.80 metros na árvore, a cerca de 55 metros de altura (o equivalente a um décimo quarto andar) e foi rodando entre si. Cada um ficava um ou dois dias mas a ideia era um voluntário que ficasse pelo menos uma semana para que o impacto nos media fosse mais visível. Julia subiu a sequoia e em vez de uma semana ficou dois anos seguidos.

Este braço de ferro entre a Pacific Lumber Co., os madeireiros e os ambientalistas foi um record. Julia viveu embrulhada em sacos-cama durante a invernia tendo apenas uma tenda que praticamente cobria a precária plataforma. A sua determinação chamou gradualmente a atenção para a necessidade de proteger as florestas antigas que outrora abundavam na América mas que pela ganância das grandes corporações e dos lobbies das madeiras foram sendo dizimadas. Durante esses dois anos a árvore foi sacudida por ventos fortíssimos do El Nino, por as pás dos helicópteros da Pacific Lumber Co. e Julia teve madeireiros a ameaçarem a sua integridade física e o corte de Luna caso ela não descesse. Durante dez dias uma empresa de segurança a mando dos madeireiros isolou Julia impedindo que lhe fizessem chegar provisões. Num documentário sobre a história de Julia (Adventures on Treesitting) a heroína refere as condições duras durante o Inverno com chuva gelada, vento e o isolamento ao estar confinada a um quadrado com menos de 2 metros. Um pequeno camping-gaz e um telemóvel a bateria solar foram dos poucos confortos que Julia levou para a gigantesca sequoia. 

 Vídeo com Julia Hill a descer Luna em Dezembro de 1999

Em 1999 sendo já visível no rosto e no corpo de Julia as consequências da sua longa jornada no topo da sequoia a Pacific Lumber Co. decidiu chegar a um acordo. Uma área-tampão (buffer zone) de cerca de 200 pés (60 metros) foi aceite a troco de 50.000 dólares angariados por diversas associações ambientalistas. O dinheiro foi posteriormente revertido para o estudo de florestas sustentáveis. Julia desceu Luna e não evitou o choro ao separar-se da sua milenar companheira de dois anos. Dizia não entender o que passa pela cabeça de alguém para cortar uma árvore como aquela. Nascia uma das maiores activistas para a protecção das florestas. 
Luna, ficando isolada em terreno da Pacific Lumber Co., sofreu pouco depois um ataque. Em 2000 descobriram um profundo corte no seu tronco. Um puro acto de vandalismo que, felizmente, foi curado com aplicação de ervas na "ferida" aberta por gente sem escrúpulos e brutalizada. Cabos de aço e um colar em volta do tronco previnem que os ventos fortes derrubem Luna. A árvore recuperou e apesar de nunca se ter encontrado o culpados(s) este acontecimento marca o fim de uma luta de 15 anos para se preservar a floresta de Headwaters, agora um parque nacional que atrai milhares de turistas e que constitui apenas 3% do ecossistema original! [1]

Julia Butterfly Hill continua a sua luta. Foi presa e deportada do Equador quando tentava proteger uma floresta milenar da depredação causada pela construção de um pipeline e é uma das vozes activas contra o sistema de taxação fiscal dos EUA conhecido como IRS. A sua história foi inspiração para musicas, livros, documentários e sobretudo para outros ambientalistas.

Podem ler mais sobre Julia no seu site ofical: Julia Butterfly Hill

[1] http://www.circleoflife.org/inspiration/luna/

Fontes: Wikipédia e site da autora.